sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Hoje eu pensei naqueles lugares que um dia foram tão importantes e hoje a gente não volta mais.
Pensei no banheiro da casa dos meus avós, que fica no mesmo terreno onde eu moro. Devo ter tomado mais banho lá do que na minha própria casa.
Depois que minha vó faleceu, devo ter pisado no banheiro uma ou duas vezes.
Ontem, minha vó teria completado 80 anos de idade.
O banheiro da casa dos meus avó é branco, pequeno e possui dois basculantes: Um em cada extremidade do cômodo retangular. Tem vaso, pia e armários brancos. O armário é de madeira, tem duas grandes portas espelhadas e foi feito pelo meu avô, que até então era marceneiro. O chuveiro é uma daquelas duchas gigantes que permitem que você regule a temparatura de acordo com o seu humor.
Na mureta que separa o box do resto do banheiro, sempre tinham guimbas de cigarro do meu avô. Eu me perguntava se ele fumava enquanto tomava banho. Dentro do armário das portas espelhadas haviam perfumes da Avon e uns batons variados. O meu preferido era o que tinha embalagem de cisne dourado. Acho que eu cheguei a experimentar todos os batons da minha avó com o pretexto de usar a ducha.
O banheiro fica dentro do quarto dos meus avós, era o banheiro do casal. Minha mãe reclamava que eu esquecia - propositalmente - shampoo e condicionador na casa deles. Naquela época eu ganhei a mania de tomar banho de cabeça baixa, procurando insetos. Saía do banho e sentava entre vó e vô pra assistir as novelas da Globo.
No banheiro, tinha ainda um ganchinho prateado entre o vaso sanitário e o armário das portas espelhadas. Nele, sempre tinha uma cueca ou uma "calcinha" pendurada. Havia, sobre a pia branca, um grande pente roxo, que eu não me atrevia a passar no meu cabelo. Ele era tão encardido...
O banheiro era usado ainda para o banho dos cachorros dos meus avós. De frente para a ducha que eu gostava tanto, tem uma prateleira de ferro enferrujado, com uma velha pintura branca. Nela, sempre tinha sabão de côco, com alguns pêlos de poodle e algumas pulgas grudadas.
Depois que minha vó faleceu, meu avô descuidou do banho da família da Miúcha.
Um dia, quando há muito minha vó não estava mais por aqui, minha mãe pediu que eu fosse até a casa de meu avô entregar umas roupas limpas e passadas. Gritei por meu avô, mas provavelmente ele estava em uma das suas constantes idas ao Farrula. Entrei no quarto do casal, e quase enlouqueci com o cheiro de cigarro misturado ao cheiro da minha avó. Quase enlouqueci.
Estou sentindo o cheiro agora.