
Eu estou sempre ocupada, SEMPRE. Cronometro todas as minhas atividades, anoto tudo na agenda, tenho horários certos até para comer. Agora mesmo, estou digitando uma entrevista imensa, feita em dois dias, pretendo tirar dela duas matérias. Mas precisava escrever um pouco por conta própria - sobre coisas MINHAS - para deixar um registro de algo que não quero esquecer.
Aqui em casa quando o telefone ou a campainha tocam, eu logo digo pra quem está comigo em casa: Se for pra mim eu não estou! É claro que isso nunca foi efetivado, primeiro porque eu não tenho coragem, segundo que minha mãe não mente para me encobrir.
Então eu atendo a pessoa.
Antigamente, eu ficava HORAS no telefone ou de papo com VÁRIAS amigas no meu quarto, ou seja lá onde fosse. Ia na casa de todo mundo, dormia, levava filmes, fazia brigadeiro, ficava na praça, tomava sorvete, passava madrugadas acordada falando sobre garotos e mães chatas.
Mas do início de 2008 pra cá, tudo isso foi se extinguindo.
Fui ficando sem tempo para isso, cansada para aquilo, atrasada para aquilo outro e por aí vai...
Recusei convites de programas que eu sempre tomava a iniciativa de convidar, nunca estava em casa quando me ligavam. E quando chegava em casa, estava cansada demais ou o horário estava avançado para que eu rertornasse as ligações.
Logo eu que era a mais "Somos amigos pra sempre, vamos juntar todo mundo todos os dias, êêê!", os vi continuarem a se encontrar e eu ficando cada vez mais desatualizada da vida deles.
Acabou que o que era um apego diário, tornou-se companhia para eventualidades.
Voltando agora para o ponto "Então eu atendo a pessoa". Frequentemente, um dos meus amigos vem me visitar ou telefonam. Ai é aquela coisa de saudades, contar da vida, e eu sempre tendo um relatório de "novidades", que devido aos horários apertados, eu acho um porre ficar repetindo. No msn tudo é mais fácil, conto pra um, copio e colo pra todo mundo que pergunte.
Daí os minutos vão se estendendo, eu com o corpo no portão ou a voz no telefone, mas a mente no que eu estava fazendo ou no que estou atrasada para fazer. Aparecem frases do tipo "vamos lá em casa", "você esqueceu de mim", "tava muito ocupada?" e eu tendo que delicadamente justificar tudo, com umas risadinhas de "poxa, eu queria...". E não é todo mundo que entende.
E quando tem algum evento que junta meninas da minha idade, eu sempre acabo ficando com o pessoal mais velho, falando sobre compromissos, notícias e filosofias de vida. Porque não consigo me encaixar mais em conversas sobre namoros e bebedeiras. Até tento, mas ai eu começo a colocar minha opiões e minhas preferências, e muitas vezes acabo com olhares de "ahn?" sobre mim.
Será que nenhuma pessoa normal de 18 anos se interessa pelas mesmas coisas que eu?
Confesso que ás vezes me sentia estranha sendo assim. Mas automaticamente me sentia feliz. Porque não estava disposta a levar a vida que alguns amigos levavam, pelo contrário, tinha aversão.
A estranheza que eu sentia, era pelo fato de eu não encontrar ninguém igual a mim. Que abdique de tanta coisa, que não meça esforços para alcançar objetivos, mesmo que os objetivos não sejam tão claramente definidos, o que importa é que aquilo que se faz agora, VAI levar a algum lugar. E dependendo do esforço, vai levar longe. Não existia ninguém que tenha resolvido abraçar o mundo de uma vez só, para que eu pudesse me espelhar e me confortar.
E se não existia ninguém, será que só eu era assim? Será que eu estava jogando anos da minha vida fora, por estar antecipando e lutando por coisas que eu poderia fazer daqui a alguns anos?
Então, de repente, eu me vejo num grupo de pessoas também loucamente apaixonadas por tudo. Pessoas da mesma faixa etária, que conseguiram exprimir toda essa minha confusão a respeito de amigos, juventude e compromissos. Com problemas de sociabilidade e tempo, assim como eu!
E juntos fizemos planos, e nos jogamos em mais um desafio contra o relógio.
Hoje, foi mais um dia (explosão). E eu desejo que ele seja o ponto de partida para a concretização de tudo o que planejamos. E que Deus nos ajude.